UMA CANOA CABOCLA ROMPENDO O RIO

O universo cultural brasileiro é formado por diversos sons, cores e movimentos. Em relação a sonoridade, torna-se impossível tratar de música popular brasileira o que somente responde as matrizes da indústria, que impõe ritmos e tem ignorado as particularidades de cada região que compõem este rico universo artístico de nosso país. Exatamente na oposição a esta pororoca provocada pela indústria cultural nacional que rompe o projeto CANTO CABOCLO, do paraense Mestre Dimmi, pesquisador, artesão musical, musicista e percussionista de reconhecimento internacional, que inicia sua temporada de apresentações.
O projeto CANTO CABLOCO é resultado da pesquisa feita, que se originou a partir da própria de mestre Dimmi, natural de uma área pouco reconhecida pela capital que é a Ilha do Combú, margem oposta à da capital paraense. Ele “navega” no banzeiro sonoro de mestre Dimmi Paixão, que nasceu as margens igarapé de Piriquitaquara, no furo da Paciência e de onde extrai sua ancestralidade nas matas rios e igarapés ameaçados pelo avanço da Babilônia de concreto. Dialoga com batuques de terreiros samba cumbrias e carimbos, expressando nas suas canções esse rico imaginário caboclo de lugares, falares e a faina do ribeirinho que fazem parte da rico universo cultural e sonoro do Brasil. O projeto traz na bagagem o auxílio de amigos/parceiros de longas datas e de longa trajetória de sucesso no música não somente do Pará que são Mauro Farias (percussão/vocais), Hilder Nunes (banjo/cavaco), Gabriel Pinheiro (violão/banjo), Luiz Bola (percussão), Geraldo Silva (flauta) e Ronaldo Juruna (efeitos e maracas).

Mestre Dimmi ou Dimmi Paixão para os íntimos é músico um paraense, compositor, percussionista e Lutier há mais de 30 anos no mercado. Já atuou profissionalmente como professor de artes e oficineiro na construção de instrumentos, assim como, ministrou palestras e executou projetos em municípios localizados na Zona do Salgado Paraense. Morou 12 anos na Europa onde participou de vários projetos na área cultural e foi integrante da Associação Golpe a Golpe de Tambor, na Ilhas Canarias, na Espanha. Administrou o Espaço Cultural Etnias, em Belém, que era local de formação, apresentação, circulação e difusão da cultura popular, assim como, de outras vertentes artísticas. Sua pesquisa e suas composições, ressaltam o imaginário caboclo, sempre difundindo pelo mundo todo e aqui na terra das mangueiras a cultura popular paraense. Foi pioneiro na construção de instrumentos percussivos na cidade de Belém, tornando a Praça da República espaço de apresentação de seus instrumentos e trabalhos artísticos, bem como, o ponto de encontro de artistas populares e ativistas culturais.
Vale destacar que por se tratar de um artista que difunde a cultura paraense, sua barraca localizada na Praça tornou-se um espaço onde acontecem aos domingos a tradicional Roda de Batuque, espaço frequentado por artistas populares locais e de outros estados e países, atraindo centenas de pessoas que circulam na local e difundindo a rica e particular cultura paraense de maneira inclusiva e gratuita.

Músicas do Canto Caboclo

Meu casco é de ciriúba
E também o meu tambô
Meu remo é de andiroba
Amargo é não ter o teu amor

Amargura de remar
Contra a mare de me da
Me da um bem estar
Quando ao teu lado estou

Da ciriuba faço o casco
Pra voltear com a minha flor
Do remo faço um banjo
E assovio pro meu amor

No casco eu te passeio
No ritmo te enlouqueço
Se danço o carimbó
É claro que te mereço

A raza pro açai
Camarão pro matapi
Abano para abanar
Avuado de acari

Na pitinga se salga o peixe
No topé seca o cacau
Caroceira o caroço
A peneira coa o grosso

Se tá fino é surara
Se tá fino é surara
Uns te chamam açaí
Outros te chamam juçara

Segunda,
Terça,
Quarta
e Quinta,
Ouve-se o assovio da matinta

A sexta é dia da besta
O sábado da mambira e curupira

Domingo descansa Iara
Boi tatá e Jurupari

Se sentes calafrio
(Cruz credo)!
Fiiite na mata
Matinta Pereira
Pereira da Silva
Da beira do rio

Tambor que se toca
Tambor que afaga
Tambor de tronco
Tambor de tábua
Tambor de pau oco
Membrana é couro

Tambor faz dançar
Tambor de coco
Tambor de bambú
Tambor na cidade
Tambor em combú

Tambor de Criola
Tambor Chamânico
É tambor pajé
Tambor do peito
É cárdio Tambor

Tambor no terreiro
Saudando caboclos
Tambor no terreiro
Saudando orixás

Tirei agua no pote
botei pra esquentar
Peguei caroço da raza
E joguei no arguida

Amoloce o caroço menina,
Amoloce o caroço menina,
Amoloce o caroço menina,
Caroço para amassar

Abacaba, açaí, Patauá
se amolece no arguida
e só botar na agua quente
E a fria para equilibrar

Tirei agua do pote
Botei pŕa esquentar…

Ela desembestou pelo caminho
Rompeu flor, pisou em espinho
Não podendo na roda entrar

A mão come no couro
A clave no pau oco
As maracas tremulando
Fazem um ritmo gostoso

Tia Dilce fez unguento
Com andiroba e amapá
Preparou a gororoba
Para o seu pé curar

Para o seu pé curar
Para o seu pé curar
Para o seu pé curar
E na roda vir dançar

Icoaraci,
popopo,
paqueta,
jutuba é...
Cotijuba!

Saudade da Fleixeira
Pedra branca
vai quem quer
de charrete,
de bond ou a pé

Pernoitar na cama de areia
num hotel de milhões de estralas
passear em trilhas verdes
já pensando o amanhã

Icoaraci,
popopo,
paqueta,
jutuba é...
Cotijuba!

Banzeiro grande
Ecoa na mata
Brotam raizes
Crescem troncos tum!
Sangram as veias
Dos igarapes
Canta ariramba
Um canto livre

Ao som do qua qua qua
Do arapapa
Rasgamdo a noite
Num tum, tum tambor

Desce batelo
Faia rema tronco
Contra a correnteza
Do furo de madre deus

Geme forquilha
Dizendo a trilha
Do barco chegar

O batelão não tem motor
Bebe tem que remar

Batelo de tronco
E canoa de pau oco

O batelao não tem motor…

Chama Bebé pra benzer
Chama yaya pra espanar
Chama vovó, pra fazer
Nascer Cainã

Cainã e bom no faia
Bom na gapuia
Na capoeira

Nada na aninga
Faz travessia na correnteza
Cainã trouxe arruda
Para benzer
Toda panemeira

Ha! tira de mim
Benzedeira
2x

Ha tira de mim
Toda panemeira

Chama Bebé…

Minha casa e feita com ripas
Do braço de jupati...

Água do olho,
Do olho d'agua

Que tem lá no fundo do terreiro
Peixe sacando,
O ano inteiro

Panela de barro
No fogo de lenha
Gurijuba, alfavaca, chicorea
Farinha seca,
Pro meu pirão

No girau tem alguidar,
um pote e uma bilha
Meu cachorro vira lata
E um grande caçador

Minha casa aconchegante
Esperando por ti
E uma casa de ripas
Do braço de jupati

...alimenta o boi no rio
E o passaro do ar
Também é jangada
Pra quem não sabe nadar

Aninga, aninga, aninguê...
Aninga, aninga, aningá...
Aninga, aninga, aninguê...
Aninga para, aningá Pará

Nasce nas margens
De furos e igarapes
E cotem a força
Das grandes mares

Fica de bubuia
Cruzando baias mares
Pra alimentar boi no rio
E passaro do ar

Aninga, aninga, aninguê...
Aninga, aninga, aningá...
Aninga, aninga, aninguê...
Aninga para, aningá Pará

Essa beata tá com calo, no joelho
De rezar, de rezar
E contar terço no ar

Reza, reza beatinha
Enquanto acendo a vela
Pra livrar-te do perigo
E de todas as mazelas

Te pega com santo forte
Ou com tua santa forte
Te banha de amor crescido
Pra crescer o teu amor

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